«Embora a fotografia produza imagens que são registo de realidades, não deixa de ser também um meio aberto à colagem, à mistura ou transformação cromáticas, o que Daniela Rocha
explora nesse percurso e mesmo através de computador. Operadora, enquanto técnica e artista, trabalha num domínio aberto da fotografia, acede pluralmente à imagem. Assim se explica e justifica esta nomeação profissional de operadora de imagem». (Prof. Rocha de Sousa)
Mais uma vez esta sensibilidade de natureza lírica e tarkovskiana nos arranca os olhos do olhar e enche a nossa cegueira com estas formas plásticas de um ilusionismo insupe-rável. Esta forma de perceber,atra- vés do tempo, as coisas ou restos da nossa vida, suportes em adianta- do estado de decomposição, precisa- va, com urgência ser publicada em todas as revistas portuguesas de um sábado qualquer. E perguntar: quan- do é que o homem sobrou assim ou pensou assim? Brilante exercício sobre o homem, a vida e a morte, no lado lateral a indigência. O título tem pouco que ver com es- tas «raridades». Os vestígios são do homem e não do tempo. Um tempo é um factor de metamorfose. (ZOO de Greenaway)Não tem vestígios provo- ca-os. digo: VESTÍGIOS DO HOMEM
Começo por dizer, na sequência do pungente comentário de Rocha de Sousa, e em jeito de desacordo, que o título me parece bom: "Vestígios do Tempo", (o sugerido "Vestígios do Homem" também). Aliás, ambos são excelentes porque funcionam de acordo com o grafismo e a simbologia perturbadora das imagens: os vestígios podem ser provocados pelo Homem no tempo, mas o "Tempo" (ao passar pelo Homem e pela vida) também deixa marcas, sinais, vestígios, mudando tudo. Logo, por esta ordem de ideias os "Vestígios" também podem ser dele, do Tempo (perdoa-me alguma metonímia). De resto, e porque nestas fotos há, efectivamente, um «brilhante exercício sobre o Homem, a vida e a a morte», interpelando cada um de nós, num plano ontológico que também se pode fundir no metafísico, a peça leva-me à transcendência como se duma oração se tratasse. Talvez mais uma ode que se canta ao vento, em voz baixa, interiorizada, meditativa.
As peças possuem, sobretudo, um valor histórico, sendo simultaneamente contemporâneas e ancestrais, de acordo com o teor pictórico e simbólico, respectivamente(se fosse possível uma visualização ampliada, veríamos alguns pormenores que certamente explicariam melhor a última consideração). Talvez um deste dias as possamos ver, enfim, plenas de efeito num lugar apropriado. Gostei. Muito.
2 comentários:
Mais uma vez esta sensibilidade de
natureza lírica e tarkovskiana nos
arranca os olhos do olhar e enche a
nossa cegueira com estas formas plásticas de um ilusionismo insupe-rável. Esta forma de perceber,atra-
vés do tempo, as coisas ou restos
da nossa vida, suportes em adianta-
do estado de decomposição, precisa-
va, com urgência ser publicada em
todas as revistas portuguesas de um
sábado qualquer. E perguntar: quan-
do é que o homem sobrou assim ou pensou assim? Brilante exercício sobre o homem, a vida e a morte, no
lado lateral a indigência.
O título tem pouco que ver com es-
tas «raridades». Os vestígios são do homem e não do tempo. Um tempo
é um factor de metamorfose. (ZOO de
Greenaway)Não tem vestígios provo-
ca-os. digo: VESTÍGIOS DO HOMEM
Começo por dizer, na sequência do pungente comentário de Rocha de Sousa, e em jeito de desacordo, que o título me parece bom: "Vestígios do Tempo", (o sugerido "Vestígios do Homem" também). Aliás, ambos são excelentes porque funcionam de acordo com o grafismo e a simbologia perturbadora das imagens: os vestígios podem ser provocados pelo Homem no tempo, mas o "Tempo" (ao passar pelo Homem e pela vida) também deixa marcas, sinais, vestígios, mudando tudo. Logo, por esta ordem de ideias os "Vestígios" também podem ser dele, do Tempo (perdoa-me alguma metonímia).
De resto, e porque nestas fotos há, efectivamente, um «brilhante exercício sobre o Homem, a vida e a a morte», interpelando cada um de nós, num plano ontológico que também se pode fundir no metafísico, a peça leva-me à transcendência como se duma oração se tratasse. Talvez mais uma ode que se canta ao vento, em voz baixa, interiorizada, meditativa.
As peças possuem, sobretudo, um valor histórico, sendo simultaneamente contemporâneas e ancestrais, de acordo com o teor pictórico e simbólico, respectivamente(se fosse possível uma visualização ampliada, veríamos alguns pormenores que certamente explicariam melhor a última consideração).
Talvez um deste dias as possamos ver, enfim, plenas de efeito num lugar apropriado. Gostei. Muito.
Boa, She!
Migteu
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